Nexo Jornal – A desigualdade racial do mercado de trabalho em 6 gráficos

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Dados do IBGE mostram distância significativa entre brancos e negros. Diferença aparece no desemprego, na renda e na comparação por sexo.

Por Marcelo Roubicek, via Nexo Jornal

As diferenças raciais no mercado de trabalho mudaram pouco nos últimos anos, segundo um novo estudo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A pesquisa “Desigualdades sociais por cor ou raça no Brasil”, divulgada na quarta-feira (13), mostra como evoluíram indicadores como trabalho, renda, moradia, escolaridade, violência e representação política entre 2012 e 2018, destacando as disparidades por cor ou raça.

Na média, a população branca sofreu menos com o desemprego e manteve a renda significativamente maior do que a população negra no período.

Em 2018, a população preta ou parda representou, combinada, pouco mais da metade do total dos brasileiros (55,8%). Já a população branca respondeu por mais de dois quintos do total, ou 43,1%. Juntos, esses dois grupos dão conta de quase 99% da população brasileira. O restante é composto por pessoas que se identificam como amarelas (0,7%) e indígenas (0,4%).

Essas proporções não se refletem, entretanto, no mercado de trabalho brasileiro. Por exemplo, apesar de serem 55,8% da população brasileira, os negros, que combinam pretos e pardos, representavam uma parcela maior (64,2%) dos desempregados em 2018.

Essa disparidade aparece em outros aspectos do mercado de trabalho. Abaixo, o Nexo apresenta em seis gráficos como as diferenças raciais aparecem hoje entre os trabalhadores no Brasil.

O desemprego e a subutilização

Os números do IBGE mostram que o desemprego permaneceu mais alto entre negros do que entre brancos nos últimos anos.

Ao todo, o desemprego no Brasil subiu no período considerado, de 7,3% em 2012, antes da eclosão da recessão de 2014-2016, para 12% em 2018. No entanto, durante todo esse período, a população preta ou parda manteve um patamar de desemprego superior àquele observado na população branca.

A mesma coisa aconteceu com relação à subutilização. Em termos gerais, esse indicador mostra quanta mão de obra é desperdiçada no Brasil. Ela é composta pela soma de:

  • desocupados, que são os desempregados; pelos critérios do IBGE, essa categoria consiste naqueles que procuram emprego, mas não estão trabalhando
  • subocupados, que são os que trabalham menos que 40 horas semanais, mas que gostariam de trabalhar mais horas
  • força de trabalho potencial, que é a soma das pessoas que, por algum motivo, não podem assumir um compromisso naquele momento, com os desalentados, que são os que gostariam de trabalhar, mas deixaram de procurar emprego por falta de esperança

Em termos absolutos, o número de pretos ou pardos em situação de subutilização corresponde a pouco mais que o dobro do número de brancos: são 18,4 milhões de pessoas contra 9,1 milhões em 2018, respectivamente.

O trabalho informal

O emprego informal no Brasil em 2018 respondeu por mais de 40% dos postos de trabalho. Mas a informalidade não atingiu de forma igual a população branca e a população preta ou parda.

Pelos critérios do IBGE, as cinco categorias de trabalho que entram no cálculo da informalidade são:

  • emprego por conta própria sem CNPJ registrado, como no caso dos motoristas de aplicativos de transporte
  • emprego sem carteira de trabalho no setor privado
  • emprego doméstico sem carteira de trabalho
  • emprego como familiar auxiliar, que ocorre quando a pessoa trabalha ajudando parentes na profissão
  • trabalho como empregador sem CNPJ registrado, como é o caso de microempreendedores não registrados que contratam auxiliares (podem ser pedreiros ou ambulantes)

Quase metade da população preta ou parda empregada trabalhou em postos informais em 2018 – o número exato ficou em 47,3%. Na população branca, essa proporção ficou em 34,6%.

A trajetória da renda

A desigualdade de renda entre brancos e pretos ou pardos sempre foi profunda no Brasil e se manteve entre 2012 e 2018.

De 2012 a 2018, a diferença entre quanto ganham os brancos e quanto ganham os pretos e pardos praticamente não mudou.

73,9% é a diferença entre a renda média dos brancos e a renda
média dos pretos e pardos, segundo números de 2018.

A desigualdade racial no rendimento médio aparece tanto no emprego formal quanto no informal. Ela apresenta um fosso ainda maior quando a comparação é entre as duas categorias de emprego. Um trabalhador formal branco ganha, em média, 3,1 vezes o rendimento médio de um trabalhador informal negro.

Em média, o rendimento de uma pessoa negra empregada formalmente está muito mais próximo do rendimento de uma pessoa branca empregada informalmente do que de uma pessoa branca que também trabalha com registro.

14,8% é a diferença entre a renda média dos pretos e pardos que trabalham em empregos formais e a renda média dos brancos em postos informais.

As disparidades por sexo e cor ou raça

Mulheres brancas ganham mais do que negras, e homens brancos, mais do que homens negros, mostram os dados do IBGE. De 2012 até 2018, a diferença entre as mulheres cresceu levemente, de 66% para 71%. Já entre os homens, houve leve queda, de 83% para 78%.

Os números do IBGE apontam para duas formas de discriminação da renda: uma por sexo e outra por cor ou raça. Tanto na população preta ou parda como na população branca, os homens ganham mais do que as mulheres – 26,4% e 31,9%, respectivamente.

A combinação das duas disparidades mostra que, em média, uma mulher branca ganha mais do que um homem preto ou pardo. Isso significa que as mulheres brancas estão mais próximas dos homens brancos – que são os com maior rendimento médio – do que os homens pretos ou pardos.

Um homem branco ganha, em média, 2,25 vezes o que recebe uma mulher negra.

 

 

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